Antes de saires de casa presta atenção

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Augusta Martinho...

Foi filha, irmã, amiga, esposa...por certo.

Teve uma infância, talvez feliz, correu, brincou, sorriu, chorou…como toda a gente!

Sonhou, viveu, fez planos para o futuro, alguns realizou, outros não…tal como qualquer um de nós.

Por certo pensou na sua morte, como seria, o que a esperaria, teria ou não sofrimento…quem não pensou já nisso, no entanto, nunca deve ter sequer imaginado que permaneceria oito anos sem vida no chão da sua cozinha, onde habitualmente fazia as refeições com o seu marido, sem que ninguém se apercebesse do sucedido.

A acompanhá-la, apenas o fiel cão que, por falta da sua assistência acabou por ter igual desfecho.

Agora o país lamenta a morte de Augusta Martinho, mas de uma forma ou outra toda a sociedade é culpada pelo seu triste desfecho.

Segundo relatos que se ouvem agora, a senhora seria reservada, e na ausência de familiares directos, não se relacionava habitualmente com vizinhos ou outros parentes. Com o desaparecimento do marido ficou por sua própria conta e morreu numa total solidão.

A luz da cozinha manteve-se acesa dias a fio, quase um ano, até que a electricidade foi cortada por falta de pagamento. Os vizinhos, que estranhavam a ausência da D.Augusta, observavam aquele constante sinal de luz, único naquela moradia onde tudo era já escuro.

O alarme foi dado às autoridades, os familiares chegaram a formalizar uma queixa, mas nada foi feito…quando já não havia muito a fazer.

Foi encontrada ao fim de oito anos por razões financeiras…a casa foi penhorada por incumprimento nas suas obrigações fiscais e leiloada em praça pública. Por uma vez o vil metal foi útil para ser dada dignidade à morte desta idosa.

Façamos um exame de consciência e pensemos nas Augustas da nossa proximidade. Familiares, vizinhas, amigas que na fase final das suas vidas se vêm confinadas a um espaço, sozinhas, doentes e a definhar de tristeza. Andamos tão ocupados na nossa correria diária, perseguindo muitas vezes objectivos que nem nós próprios conseguimos definir, e ignoramos de forma egoísta estas realidades.

Não custa muito…não nos rouba muito tempo…e é bastante gratificante obter um sorriso de quem deixou de ter razões para o fazer.

Humanizemos a nossa sociedade e valorizemos afectos porque ao fim e ao cabo são eles que valem a pena!!!

São Mais Dualidades!!!
NP

2 comentários:

Anónimo disse...

Ai... lá veio a lagrimita :(

Sem dúvida que este é um problema de todos. E se por algum motivo às vezes aos familiares não podemos dar o devido apoio, por causa da distância, temos sempre alguém a morar ao lado que é pai, irmão de outro alguém como nós e não nos custa dar um poco de carinho e atenção.
Matosinhos desenvolveu uma iniciativa que se deveria de alastrar a todo o país.
Eu dou sempre 2 ou 3 deditos de conversa às velhotas do meu prédio :)

Jinhos,
MS

Elvascidade disse...

Sem dúvida vale a pena pensar nestas situações. A sociedade está cada vez mais a tornar-se uma selva. As pessoas não são nos dias de hoje tratadas como seres humanos.
É muito triste o que se passou com esta senhora.