Dia 20 de Setembro

É preciso ser-se elvense para sentir a mística que transporta cada 20 de Setembro!

Há uma energia diferente no ar anunciada bem cedo por uma alvorada de morteiros por volta das 9h da manhã, apesar de na minha infância, acontecer uma hora mais cedo, sinal de que talvez agora acordemos mais tarde.

A meio da manhã é a música das bandas que enche as ruas estreitas do centro histórico, alvoroçando comerciantes e clientes, elvenses e forasteiros, num dia em que as ruas se sentem mais cheias de gente e de vida.

Reconhecem-se caras conhecidas, algumas que não se vêm há meses ou até anos, mas que o apelo do dia de Pendões trouxe de volta à terra natal. Outrora os romeiros vinham em carros de canudo puxados por mulas, hoje em confortáveis automóveis, mas mantém-se o fervor e a tradição!

As senhoras enchem os cabeleireiros, as pastelarias também não dão mãos a medir. Festa sem doces é como jardim sem flores. Compram-se as velas que mais logo se carregarão na procissão ao cumprir uma promessa feita por graças recebidas.

Noutros tempos era dia de usar uma roupa melhor, mas segundo se diz, não se estreava, isso acontecia apenas no dia seguinte, dia 21 e de São Mateus!

À medida que a tarde avança, a cidade vai acalmando, o comércio vai fechando as suas portas e todos os caminhos conduzem à igreja de Nossa Senhora das Dores de onde, presidida pelo Arcebispo de Évora, sai a procissão dos Pendões, assim denominado por nela serem carregados os pendões de todas as paróquias da cidade, das freguesias rurais e dos concelhos vizinhos, num caminhar compassado e em oração, acompanhado pelo hino do Senhor Jesus da Piedade tocado pelas três bandas.

E se para os forasteiros e visitantes é apenas mais um hino, para os elvenses é um momento único que provoca um arrepio de emoção que não se consegue explicar mas que nos une num mesmo sentimento. Tem-se a noção de que passou mais um ano e vêm-nos à memória momentos bons que nos fazem sorrir, ou acontecimentos dolorosos que provocam uma lágrima furtiva. Recordamos os que já partiram e que, tal como nós, se emocionavam ao ouvir o hino e agradeciam a graça de mais um ano ao Senhor Jesus da Piedade.

Costuma dizer-se que é a maior romaria do sul do país e acredito que assim seja. É impressionante ver as centenas de pessoas que durante quase duas horas acompanham o Pendão do Senhor Jesus da Piedade no seu percurso entre o centro histórico e o Santuário, proporcionado momentos únicos aos fotógrafos. Infelizmente não é hábitos ser honrados com a presença das televisões, este tipo de notícia não dá audiências e como tal não justifica a deslocação!

À noite abre o arraial! Noutros tempos as barracas apenas descobriam os seus produtos quando o Pendão do Senhor Jesus da Piedade passava, na sua chegada ao parque da Piedade. Hoje a vertente comercial sobrepõe-se, o que é legítimo, os valores dispendidos no aluguer do espaço tem de ser rentabilizado.

Começa então a festa, as enchentes, os sons habituais de uma feira, os divertimentos, os cheiros e aromas das farturas, das pipocas, do algodão doce, os frangos assados com o característico pó que anda no ar e que lhe dá um sabor a São Mateus.
De há uns anos a esta parte, os espectáculos decorrem na caseta instalada ao cima do parque pela Câmara Municipal, mas parecem apenas dirigidos para os mais idosos. É de lamentar.
E ao fim da noite o fogo de artifício encerra a noite de arraial.

Dizem os mais velhos que, noutros tempos, a mata onde os romeiros costumam acampar por estes dias, enchia-se de música e cantorias noite fora. Hoje em dia, os mais novos concentram-se no tabuleiro superior onde os bares e casetas prometem copos e animação até de manhã.
Novas formas de divertimento mas o convívio é o mesmo.

Ao fim e ao cabo a essência do São Mateus é o reencontro e a união com amigos e familiares. Ontem como hoje continua a acontecer!

São Mais Dualidades!!!
NP