Ao passar pela Avenida de Badajoz, em Elvas, reparei que numa janela de uma casa do bairro de Santa Luzia estava pendurada uma imagem do Menino Jesus. Achei curioso, perguntei-me a que se deveria, mas não consegui encontrar uma resposta lógica.
Dias depois, li uma nota na revista Visão que falava da iniciativa de um grupo de famílias cristãs em recuperar o verdadeiro símbolo do natal e no domingo vi uma reportagem no noticiário da SIC que me elucidou sobre o assunto.
Apesar de não ser fundamentalista e de não estar a ponderar pendurar um estandarte da minha janela, não poderia estar mais de acordo com a iniciativa.
O verdadeiro acontecimento natalício é o nascimento do Menino Jesus e a simbologia cristã que o mesmo acarreta.
Como já vos comentei em anos anteriores aqui no Dualidades, no Natal da minha infância e na minha família, o Menino Jesus sempre foi o centro das nossas festividades.
O meu primo e eu crescemos a pensar que era o Menino Jesus quem trazia os presentes, tal como os tinha trazido aos nossos pais e aos nossos avós.
Na noite do dia 24, e depois do jantar em família, os sapatos iam para a chaminé à espera que os presentes fossem trazidos pelo Menino Jesus. Ambos acreditávamos piamente nas histórias que, principalmente a minha avó nos contava e nem ousávamos questionar como um recém-nascido era capaz de trazer pela chaminé das nossas casas todos os presentes que tínhamos idealizado, caixas mais ou menos volumosas que, como por magia apareciam nos nossos sapatinhos depois de um estardalhaço ruidoso que, descobrimos mais tarde, os pais forjavam para nos convencer da queda dos presentes, enquanto a minha avó nos entretinha num quarto contando e recontando as mesmas histórias que ajudavam a criar a envolvencia necessária. No quotidiano como no Natal, a minha avó enquanto pilar da família.
Em lugar da carta ao Pai Natal, o meu primo e eu sempre a escrevemos ao Menino Jesus! Depois com o tempo viemos a descobrir que afinal eram os nossos pais que ofereciam os presentes e a magia dissipou-se, mas depois veio o primo mais novo e mais tarde a minha afilhada e no seio da família sempre se cultivou a crença no Menino Jesus e na sua missão de trazer os presentes.
O meu papel também sofreu alterações. Deixei de ser um dos alvos privilegiados das histórias dos mais velhos, para ser também um foco divulgador das mesmas junto dos mais novos.
Elvas também tem muita tradição nesta quadra festiva e é nacionalmente conhecido o Cancioneiro do Natal de Elvas. Acompanhados das roncas, instrumento característico da raia, costuma cantar-se ao Menino, sendo que todas as quadras remetem para o nascimento do mesmo.
Nos últimos tempos a quadra assumiu uma vertente puramente comercial, empolgou-se a troca de presentes, importou-se a imagem do Pai Natal e institui-se. Surge nas iluminações das cidades, nas varandas das casas, banalizou-se de tal forma que chega a perder alguma da magia que a quadra transporta.
Portugal no seu melhor...descuidamos as nossas tradições para vivermos intensamente as dos outros.
Sou da opinião que as televisões também têm contribuído activamente para isso, explorando até à exaustão o Pai Natal enquanto ícone das festividades, em detrimento do que é nosso do que é genuíno. Importou-se o Natal americano...ainda ontem reparava que o logótipo TVI que figura no canto superior esquerdo do ecrã surge nesta quadra debaixo de neve…mas desde quando o Natal luso tem neve? Talvez o de Trás-os-Montes e da Beira Alta, mas não me parece que a alusão seja essa.
Para mim é o nascimento do Menino Jesus que verdadeiramente festejamos e que motiva a união das famílias, é Ele que é adorado na Missa do Galo, beija-se o pezinho ( ou beijava-se antes de ter surgido uma coisa a que chamam Gripe A e que vem dar mais uma machadada nas tradições cristãs ).
Considero o Menino Jesus o símbolo principal do Natal e tenciono contribuir para que na minha família a tradição continue a ser o que era.
Cada família sua sentença!
São Dualidades!!!
NP