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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ensino à portuguesa

Neste fim-de-semana foi de uma forma incrédula que ouvi pela primeira vez a notícia. A incredulidade foi tal que ainda pensei que tinha ouvido mal e tive de ir à internet procurar para confirmar. Para minha surpresa, apercebi-me que tinha ouvido bem e era tal e qual: a Ministra da Educação pretende propor que os alunos do 8º ano, repetentes e com mais de 15 anos possam transitar directamente para o 10º ano caso realizem com sucesso os exames do 9º ano.

Provavelmente haverá quem concorde. Eu discordo em absoluto.
Isto, para mim, tem apenas um objectivo, que é tentar aumentar a qualquer custo o mau aproveitamento que existe no ensino em Portugal, para que possamos fazer boa figura perante a União Europeia e a OCDE.
Isto é uma simples forma de dizer que aqueles alunos que se baldam às aulas, não estudam, não se esforçam e não fazem o mínimo para tentar passar o ano, no final, até lhes arranjamos aqui uns examezinhos, com meia dúzia de perguntas básicas, para que eles dêem todos o salto para o 10º ano. E no final, quando formos fazer as contas, chegamos à conclusão que temos óptimas taxas de aproveitamento e a grande maioria dos nossos alunos passou para o 10º ano.

Pergunto-me que raio de motivação é esta que se dá aqueles alunos, que muitas vezes com esforço pessoal e das suas famílias, muitas vezes com fracos recursos económicos e situações familiares complicadas, mas que vão à escola, aplicam-se e estudam para passarem nos exames ao longo de todo o ano?!
Que motivação se dá estes alunos quando vêm que o colega do lado, que passou o ano inteiro a baldar-se, nunca ligou nenhuma às aulas, nunca fez um trabalho de casa ou estudou para um teste, chegar ao final do ano e com um esforço mínimo faz o que os outros tiveram de merecer durante um ano lectivo inteiro?!

Sim, porque se o Governo vem com esta ideia maravilhosa, certamente que o objectivo é apenas um e aquele que referi em cima. Desvirtuar o sistema de ensino e criar atalhos com o único intuito de melhorar médias e resultados a apresentar lá fora, dizendo que os nossos alunos são um espectáculo.
E não tenho a menor dúvida de que com este objectivo por detrás, os exames que irão ser apresentados a estes alunos "curto-circuito" serão os típicos exames de "caca" que já muitas vezes ouvimos falar em situações anteriores, cujo facilitismo faz lembrar provas da 4ª classe.

E no meio disto tudo, onde estão as bases que o sistema de ensino pretende criar? Aquelas bases que se aprendem no dia-a-dia, in loco, nas aulas, com perguntas e respostas e exercícios?
Que bases destas terá um aluno que durante o ano inteiro, sabendo desta maravilhosa lei, nunca se preocupou ou esforçou a aprender fosse o que fosse?!

O que qualquer pessoa normal, sem segundas intenções, pensaria sobre estes casos seria: se um aluno com MAIS de 15 anos não conseguiu passar do 8º ano, certamente não será um protótipo de inteligência, então muito mais improvável será que consiga estudar a matéria de um ano inteiro e passar num exame do 9º ano, que até é um ano à frente daquele ao qual ele chumbou pelo procedimento normal. Mas este será o pensamento, repito, de alguém sem segundas intenções e não me parece que seja este o caso.

O ensino em Portugal anda mal e muitas vezes péssimo. E pergunto-me então, com leis destas, o que pretendem fazer dele? Criar um novo nível de qualidade vergonhosa?
Afinal não é só uma crise económica e financeira que vivemos. A pior de todas ainda deve ser a crise de valores. Provavelmente patrocinada por um Primeiro-Ministro que conclui a sua licenciatura em Engenharia num Domingo. Deve apostar na escola da vida.

JP

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro JP

Como queres que o governo e José Socrates governe o Pais, se não consegue gerir o proprio PS que esta na bancarrota como divulgado esta semana nas noticias.

Elvascidade disse...

Este País sinceramente vai de mal a pior!

Anónimo disse...

Caminhamos para o analfabetismo licenciado.

Dina disse...

Ouvi agora na rádio que essa medida é duplamente inconstitucional. Mas quer lá saber o nosso primeiro...o que importa é que em Bruxelas os números sejam um sucesso.

Anónimo disse...

Há países onde os alunos com mais capacidade podem fazer exames para avançar mais rapidamente, entrar para a Universidade e concluí-la antes do tempo médio. O objectivo deverá ser incentivar o progresso da sociedade em geral apoiando os melhores.
E depois há outros países onde se ajuda os piores a avançar e deixam os melhores ficar parados a estagnar. O objectivo tal como dizes deverá ser para mostrar números bonitos dentro do país dizendo que lá fora dão importância a coisas como números bonitos.

Quem está em Portugal e quer ter filhos o melhor que faz é ir-se embora para um país decente primeiro. E quem já os tem é melhor pirar-se antes de chegarem à idade escolar. Deixar crianças no ensino em Portugal é condená-las ao fracasso no futuro, muitos poucos terão capacidade de competir profissionalmente no mercado que é global.